Sem problemas, um poema de Diane di Prima (livre tradução)

o primeiro copo quebrado no pátio sem problemas

creme de leite para vegetais esquecido sem problemas

a resistente mandíbula de Lewis MacAdam[1] sem problemas

policiais desembarcando para assistir dançarinas do ventre sem problemas

sacos plásticos com gelos derretidos sem problemas

disco arranhado sem problemas

o cachorro do vizinho sem problemas

o entrevistador de Berkeley Barb[2] sem problemas

acabou a cerveja sem problemas

entorpecentes mirradíssimos sem problemas

olhar de soslaio contemplativos Naropans[3] sem problemas

pontas de cigarro nos altares sem problemas

Marilyn vomitando no vaso de plantas sem problemas

Phoebe renunciando ao amor sem problemas

Lewis renunciando à Phoebe sem problemas

privar-se de filhos sem problemas

cio sem problemas

cruel sem problemas

arnica espalhada pelo tapete de nylon sem problemas

cinzas e juniper berries[4] num bowl de osso esbranquiçado sem problemas

perder a fita mágica sem problemas

perder a serenidade sem problemas

arrogância sem problemas

caixas de latas de cerva e ganhafas de vinho vazias sem problemas

milhares de copos de isopor sem problemas

Gregory Corso sem problemas

Allen Ginsberg sem problemas

Diane di Prima sem problemas

as veias de Anne Waldman[5] sem problemas

o aniversário de Dick Gallup[6] sem problemas

o peyote e o run de Joanne Kyger[7] sem problemas o vinho sem problemas

coca-cola sem problemas

começar pela grama molhada sem problemas

papel higiênico esgotado sem problemas

extermínio de poejos[8] sem problemas

destruição de grampos de cabelo sem problemas

paranoia sem problemas

claustrofobia sem problemas

crescer nas ruas do Brooklyn sem problemas

crescer no Tibete sem problemas

crescer em Chicano Texas sem problemas

dança do ventre certamente sem problemas

descobrir tudo sem problemas

desistir de tudo sem problemas

doar tudo sem problemas

devorar tudo que está à vista sem problemas



o que há na geladeira de Allen?

o que Anne guarda no armário?

o que você sabe que você

ainda não me contou?

Sem problemas. Sem problemas. Sem problemas.



permanecer um dia sem problemas

sair da cidade sem problemas

dizer a verdade, quase sem problemas

é fácil ficar acordado

é fácil decidir dormir

é fácil cantar um blues

é fácil entoar um sutra

o que há de choradeira em tudo isso?



isto apodrecerá - sem problemas

embalaremos em caixas - sem problemas

engoliremos com água, trancaremos no porta-malas,

fugiremos depressa. SEM PROBLEMAS.







No Problem Party, poem by Diane di Prima (via fuckyeahbeatgeneration.tumblr.com).

 




[1] Poeta, jornalista, ativista. Ver também (autobiografia): http://poetryandpoliticsanautobiography.blogspot.com.br/.
[2] Jornal clandestino (1965 a 1980), um dos primeiros influentes da contracultura sessentista.
[3] Estudantes de uma universidade budista americana? Ver também:
[4] Semente com aparência de berries (frutas vermelhas).
[5] Ver também (ela está na ativa/em ação): http://www.annewaldman.org/publications/.
[6] Ver também (2 poems by Dick Gallup):  http://www.richardhell.com/frames/gallup.htm.
[7] Poetisa americana zen budista. Ver também: http://epc.buffalo.edu/authors/kyger/.
[8] Planta com propriedades vermífugas?




"Algumas escritoras, apesar de terem seus nomes rapidamente associados à geração beat, são negligenciadas, pois, na maioria das vezes, assumem apenas a identidade de “esposas”, “amantes”, “namoradas”, “amigas” ou até mesmo só são citadas como groupies dos escritores beats. Com um trabalho mais atento, estudiosos como Knight (1996) investigam a literatura das escritoras beat Joyce Johnson, Edie Parker Kerouac, Joan Burroughs, Anne Waldman, Denise Levertov, Joanna McClure, Helen Adam, Jane Bowles, Madeline Gleason, Josephine Miles, Eileen Kaufman e Elise Cowen. Já Johnson & Grace (2002) lembram de Joanne Kyger, Janine Pommy Vegas e Anne Waldman. E Lee (1996), em uma coletânea, destaca, dentre vários poetas, as poetisas Carolyn Cassady e Bonnie Bremser. É interessante notar que, na parca bibliografia referente às escritoras beat, a poetisa Diane di Prima é a que aparece com maior frequência."
                                      (art. Três vezes marginal: vida e obra de Diane de Prima, Maria Clara Dunck Santos)

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